A EVOLUÇÃO DOS ARTEFATOS PARA ILUMINAÇÃO – HISTÓRIA DA ILUMINAÇÃO – CAP. 2
O principal desafio após a descoberta do fogo – única fonte de luz disponível desde os primórdios até o século XIX – foi o de manter acesa a chama por longo período e aumentar a intensidade da luz, gerada pelos diferentes combustíveis utilizados ao longo dos séculos. Os artefatos evoluíram para atender à necessidade de mobilidade humana, viabilizando a complicada tarefa de iluminar. O advento da iluminação, mais precisamente da iluminação pública, permitiu que as pessoas desfrutassem mais da noite, proporcionando maior conforto e segurança. Um dos primeiros artefatos de que se tem notícia, utilizado pelo homem para transportar o fogo como fonte luminosa, foi a tocha ou archote, cujo modelo primitivo era feito de galhos de árvores com resinas.
A descoberta de novos combustíveis como a gordura animal – o primeiro de uma série utilizado por longo período para alimentar o fogo – incrementou o desenvolvimento de novos artefatos como as lucernas, feitas inicialmente em chifres de animais, conchas marinhas ou pedras. Novas descobertas fizeram com que esse recipiente passasse a ser confeccionado em outros materiais como cerâmica, metais e vidro.As primeiras lucernas eram grosseiras e rudimentares, tinham cavidade natural e utilizavam uma trança vegetal dentro do líquido nas cavas existentes nas pedras. O fogo permanecia na extremidade fora do líquido.
Com o passar dos anos, o homem aprendeu a moldar o barro criando diversos produtos, dentre eles as tigelas de formato irregular, com bordas levantadas e um bico saliente para colocar as mechas vegetais. Esse recipiente substituiu as pesadas lucernas de pedras. Na era do metal, foram desenvolvidas as lucernas metálicas há aproximadamente 3 mil anos A.C.
No entanto, a necessidade de obter melhor iluminação fez surgir aos poucos aparelhos suspensos, que substituíram as lucernas fixas. Um deles foi a lâmpada flutuante, que possuía correntes amarradas às suas bordas para serem penduradas no teto. Essas lâmpadas tinham um vaso metálico, com uma camada de água e outra de óleo combustível, sobre o qual flutuavam inúmeros pedaços de madeira sustentando as mechas.
Com o tempo, este artefato foi aperfeiçoado e o vaso metálico substituído por bojo de vidro para melhor fluidez da luz, leveza, transparência e durabilidade. O uso da tocha trouxe a percepção de que quanto mais alta, maior a área iluminada. Esse fato fez surgir o castiçal, que servia como ponto fixo para suportar as tochas e – segundo registros – originou-se na civilização etrusca, na Itália. Posteriormente, surgiu o candelabro, que nada mais era do que um castiçal com vários braços, utilizado em suportes para dependurar as lucernas e colocar copos com cera. Com a evolução, os braços passaram a ter em suas pontas velas espetadas.
Lampião a óleo, o mais antigo;
O produto mais antigo de que se tem conhecimento, surgiu há pelo menos 20.000 anos. Foi o lampião a óleo primitivo em pedra escavada, cujo desenho permaneceu igual até meados do século XVIII. Esse lampião era composto de um tanque de combustível e um pavio, às vezes completado por um pedestal, uma alça e um coletor para evitar o derrame de combustível. O tanque tinha forma de um prato, de uma cuia, de um vaso ou de um globo. O material utilizado também variava de acordo com os recursos naturais ou o nível cultural, podendo ser feito de pedra, concha do mar, cerâmica, coco, prata, vidro, cobre, bronze, metal, estanho ou ferro.
Dependendo da disponibilidade, a gordura utilizada poderia ser de peixe ou de baleia, de animais domésticos, óleo de oliva, sésamo, amendoim, coco, palma ou coiza. O pavio também passou por vários materiais como casca de árvore, fibras de musgo ou de plantas. Ele flutuava e permanecia preso por um pino, deitado num sulco inclinado ou num buraco na beira do tanque. Nas lâmpadas a óleo menos antigas, o pavio passava por um bico. Algumas delas tinham diversos pavios como certos tipos de lâmpadas gregas ou romanas onde existiam até dezesseis pavios. O desenvolvimento de fontes de luz praticamente parou por um período considerável após os tempos romanos. Mas a pressão por mais iluminação, na época da Revolução Industrial, motivou uma série de invenções. Em 1773, o francês Leger começou a usar um pavio chato para aumentar a potência da chama do óleo. Já o físico suíço, Amié Arganda, inventou um queimador redondo com um pavio tubular que melhorava a combustão, causando aumento de luminosidade com menos risco de fumaça.
Essa entrada de ar foi muito aperfeiçoada na invenção seguinte, da manga de vidro, por Quintet. Em 1865, Joseph Hinks colocou dois pavios lado a lado, criando os queimadores duplos. O óleo vegetal era utilizado exclusivamente nas lâmpadas mais desenvolvidas. Assim, para assegurar um suprimento constante ao queimador sem provocar derrames, Guillaume Carcel introduziu uma lâmpada com uma pequena bomba para elevar combustível, que foi usada por muitos anos como padrão fotométrico. Depois de 1836, essa lâmpada foi substituída pela lâmpada moderadora, menos complicada, inventada por M. Franchot. Ela continha um pistão com uma mola que alimentava o queimador, através de pressão.
Maior eficiência no combustível;
As lucernas, apoiadas em colunas, foram o embrião para o surgimento das velas por volta de 2.000 anos A.C. Inicialmente, o produto era de fabricação manual e compunha-se de cordões revestidos com breu endurecido e formatos irregulares. Posteriormente, passou a ser feita pelo processo de imersão dos cordões em cilindros, contendo em seu interior sebo líquido ou cera de abelhas derretida. Isso fez com que as velas adquirissem um formato geométrico regular.
A origem da vela é posterior ao uso dos óleos vegetais, que já apresentavam surpreendente sofisticação na elaboração das luminárias para sua queima. Dentre elas, como exemplo bíblico marcante, o menorah israelita (candelabro dos sete braços), concebido e originariamente alimentado por óleo de oliva.
Embora se credite aos fenícios o primeiro emprego de velas de cera (400 D.C.), os registros históricos fazem referência às velas feitas de fios trançados, revestidos de cera de abelha ou de piche, utilizadas na Grécia e em Roma, desde fins do primeiro século. Mas foi somente a partir do século XII que as velas se popularizaram na Europa. A maioria delas era feita de cera de abelha, de ceras vegetais ou de sebo, obtido inicialmente como subproduto do abate de animais domésticos para alimentação.
As velas feitas à mão – pelo processo de imersões sucessivas ou pela moldagem de cera em formas de zinco ou de ferro – produziam muita fumaça, exigindo que o pavio fosse aparado frequentemente. Com o surgimento e a expansão da indústria baleeira (século XIV em diante), a fartura de matéria graxa de origem animal tornou a vela economicamente mais acessível, expandindo a comercialização. A partir daí o produto conquistou seu espaço na iluminação interna em toda a Europa Ocidental, pelas vantagens em relação aos sistemas existentes.
Outra inovação, apresentada pela indústria baleeira, contribuiu para melhorar a qualidade da vela. Foi o espermacete, extraído da cabeça dos cachalotes, cetáceos comuns no Atlântico Norte, que, apesar de mais caro que o sebo, produzia uma chama de odor menos intenso. Esse subproduto adquiriu grande importância na indústria baleeira, sendo os norte-americanos e os ingleses os grandes fornecedores no mercado mundial. A partir de então, a vela passou à ciência como referência para medida de desempenho de uma fonte luminosa. Ainda hoje, sob a denominação de Candela, é a unidade física para medição da intensidade luminosa.
Os aparelhos para a sustentação também evoluíram. Do simples suporte ou punho para fixação, foram criados dispositivos para transportar a vela e conter a matéria derretida, não queimada. Os castiçais tornaram-se cada vez mais sofisticados. Os lustres e os candelabros foram mais utilizados para iluminação de grandes ambientes com muitas velas. Criou-se uma suspensão mais alta e um sistema móvel para permitir fácil reposição.
Mas o uso da vela só atingiu o apogeu a partir do século XVIII, quando passou a iluminar os salões das mansões e os palácios europeus – imitados, ao longo do século XIX, pelos palácios de suas colônias no continente americano. Um novo marco deu-se a partir da descoberta da estearina, em 1823, e da parafina, em 1830 (produtos orgânicos extraídos da gordura animal e do carvão mineral, respectivamente), trazendo maior evolução no desempenho das velas, que passaram a ter chama mais eficiente e mais limpa (maior luminosidade e menos fuligem).
Estes novos materiais, juntamente com o pavio tecido de fibras de algodão introduzido por volta de 1800, resultaram na vela para uso doméstico como conhecemos hoje.
Coordenação Editorial e Redação: Neide Lamanna
Capa: Raphael Lobosco
Projeto Gráfico: André Siqueira
Ilustração: Raphael Lobosco
Diagramação: Trust Iluminação
Revisão: Thatiana Racy