GÁS DE CARVÃO INAUGURA NOVA ERA NA ILUMINAÇÃO – HISTÓRIA DA ILUMINAÇÃO – CAP. 3

Outro grande salto na história da iluminação artificial veio com a substituição da queima dos tradicionais combustíveis sólidos ou líquidos, utilizados para geração de luz, por outras fontes que propiciaram grande evolução. Uma delas foi a descoberta do gás iluminante, que sucedeu o uso de fontes de luz primitivas e antecedeu a chegada da luz elétrica.

Esta nova fonte foi resultado da revolução industrial e teve origem com a implantação de um sistema de produção e distribuição de gás suficiente para o abastecimento de cidades.

Desde o século XVII, o alemão Theodor Becker, químico e engenheiro de minas, percebeu que o gásobtido do carvão poderia ser empregado na iluminação, mas foi no século XVIII que o gás inflamável começou a ser aproveitado em benefício da humanidade. As primeiras experiências resultaram do trabalho de três cientistas: o inglês George Dixon, o holandês Jan Minckelers, e o francês Philippe Lebon.

Por volta de 1780, Dixon iluminou sua casa a gás. Em 1783, Minckelers produziu gás de carvão para iluminar sua sala de estudos na Universidade de Louvain. E Lebon obteve gás de iluminação esquentando serragem numa retorta (vaso de gargalo estreito e curvo para destilação).

Mas foi o escocês Willian Murdock o primeiro a explorar o gás de carvão comercialmente, em 1803, quando iluminou a fábrica de Soho da Boulton & Watt
Company, onde trabalhava. Nos anos seguintes, a capacidade aumentou até o fornecimento total de luz para toda fábrica e o custo já tinha caído a um quinto
se comparado aos gastos com luz de velas. As primeiras instalações utilizavam gás próprio de carvão em retortas, que separava a fase sólida da líquida e o gás
obtido com essa destilação era armazenado em um reservatório, o gasômetro.

Nessa época, o gás escapava das juntas dos encanamentos e tinha um cheiro muito ruim. Isso levou Murdock a inventar um método de lavagem do gás, utilizando água. Mas havia, ainda, o perigo de fuga de gás e de ocorrência de explosões, além do alto custo na implantação do sistema. Porém, os gasômetros se multiplicaram e foram utilizados na iluminação pública, em teatros, grandes cafés e salões de festas. Em 1804, o moinho de algodão Salford, em Manchester, instalou o primeiro sistema extensivo composto por 50 lâmpadas a gás.

Crescimento nas vias públicas

A importância do gás para a iluminação só foi reconhecida pelo empreendedor alemão Friederick Albert Winzer, ou Winsor, como era conhecido na Inglaterra, que teve a iniciativa de centralizar a produção de gás e distribuí-lo pela cidade. Ele conseguiu obter o interesse de grupos políticos e financeiros para a implantação do seu projeto e formou a National Light and Heat Company, que mais tarde passou a se chamar Gas Light and Coke Company. A empresa iniciou o fornecimento público em 1813 e, em dois anos, instalou 26 milhas de gasodutos em Londres. Em pouco tempo, tornou-se a maior companhia de gás do mundo. Outras iniciativas de produção no continente ocorreram em Paris (1817), em Berlim e em Hannover (1825).

A primeira cidade a adotar a iluminação pública a gás foi a de Freideberg, na Saxonia, hoje República Democrática Alemã, seguida por Londres e outros importantes centros urbanos do mundo. No entanto, o fornecimento inicial de iluminação a gás ainda enfrentava problemas com o abastecimento nos horários de pico, uso restrito em ambientes fechados pelo cheiro mal purificado e o preço muito alto. Por outro lado, era a fonte preferida para a iluminação de rua pelo baixo custo de manutenção dos queimadores e a ausência do problema com o cheiro ao ar livre.

Em 1823, três companhias já competiam em Londres, forçando a melhoria da qualidade e aumentando a garantia de um rápido suprimento, o que fez com que os preços diminuíssem muito. O usuário era cobrado a partir do número de bicos que existiam em seu estabelecimento, mas, em 1850, surgiram os medidores de gás para facilitar todo esse processo.

As vias públicas eram iluminadas por lampiões a gás, instalados em pilares que ficavam sobre as calçadas, presos por longos braços nas esquinas ou suspensos no meio da rua. Esses lampiões simples, de formas quadradas ou em trapézio, eram feitos em ferro gusa ou simplesmente com chapas de ferro soldadas. No entanto, havia lampiões que apresentavam valiosas obras de artes nas ruas de algumas cidades mais seletas e, principalmente, nos vestíbulos de mansões senhoriais.

A evolução dos queimadores

Os primeiros queimadores de gás (bico de gás)
constituíam-se basicamente de um simples estreitamento na ponta aberta de um cano. Por esse motivo, apareceram vários nomes para definir esses queimadores, de acordo com o número e a configuração dessas aberturas, que davam às chamas formas específicas: “rabo de rato”, “espora de galo” e “pente de galo”.

Houve muitas tentativas de aumentar a potência da chama de gás e as diferentes iniciativas tiveram como resultado a introdução dos queimadores de “chama chata”, a partir de 1816. Esses queimadores levaram o nome de “asas de morcego” ou “cauda de peixe” pelo formato da chama, obtida com a colocação de dois jatos simples sobrepostos.

Em 1809, Samuel Clegg conseguiu adaptar o queimador Argand para ser usado com gás. Equipado com manga de vidro, ele foi o tipo mais popular até a introdução da camisa para gás. Esses queimadores eram muitas vezes acrescidos de vários anéis concêntricos (até quatro). Após 1860, o inglês Willian Sugg utilizou materiais não metálicos, como a estalita e a porcelana, no bico do queimador para evitar a corrosão. Alguns deles eram providos de um controle para compensar as variações de pressão do gás. Ainda com o objetivo de aumentar a potência da luz, foi introduzido, em 1886, outro aperfeiçoamento chamado de luz de gás regenerativa, onde o ar necessário para combustão era aquecido pelos gases do fumeiro antes de entrar. Em 1804, Drummond conduziu experimentos em que aumentava a temperatura de um pedaço de calcário com uma chama de hidrogênio, até se tornar incandescente. Isto resultou numa luz extremamente clara e concentrada. Estas “luzes” foram os primeiros holofotes, amplamente usados em teatros.

Enquanto o uso da iluminação a gás continuou
a se estender, químicos e engenheiros usaram
a invenção de Drummond para tentar desenvolver
outros tipos de luz a gás, usando materiais diferentes. Mas foi em 1887 que se alcançou um enorme progresso. Depois de inúmeras tentativas de muitos inventores – inclusive Thomas Alva Edison – durante um período de 25 anos, finalmente o físico austríaco Carl Auer Von Wellsbach obteve sucesso na melhoria da luminosidade da chama de gás. Ele acrescentou um material sólido para que ela ficasse incandescente, utilizando um tubo de pano, impregnado com uma mistura de óxidos de terras-raras, principalmente de tório e cério.

O pano queimaria deixando uma frágil estrutura resistente ao calor, formada por esses óxidos, ou seja, a chamada camisa de gás. Ele conseguiu luz muitas vezes mais clara do que a luz da chama do gás. No entanto, a composição correta para que essa camisa fosse mais potente, teve que ser encontrada de forma totalmente empírica, pois esse processo não foi bem compreendido nem 20 anos mais tarde.

A invenção da luz incandescente a gás foi um obstáculo muito grande para a iluminação elétrica nos primeiros anos. Os grandes produtores de gás fizeram de tudo para promover a luz incandescente a gás como concorrente da “luz elétrica sem eletricidade”, um dos slogans na ocasião. Mas mesmo assim, não dava mais para parar a introdução da iluminação elétrica. Ainda na tentativa de competir com essa nova fonte, as companhias de gás instalaram, no começo do século, interruptores de parede para uso domiciliar, que funcionavam de forma mecânica, pneumática ou com baterias. Para a ignição, depois de ligados, empregavam um piloto permanente ou um filamento elétrico incandescente.

Nas ruas, os lampiões a gás eram ligados, através de um mecanismo de molas e rodas engrenadas ou um aumento momentâneo da pressão do gás, que servia para acionar a válvula. Os lampiões mais modernos utilizavam uma fotocélula ligada a um relay, suprido por uma bateria. O gás acetileno, produzido a partir do carbonato de cálcio, também foi usado para iluminar vários tipos de veículos desde bicicletas até vagões de trem. Isso permitiu também que os proprietários de casas ou mansões em lugares isolados pudessem ter seus gasômetros particulares.

É muito importante destacar que o ápice da iluminação a gás ocorreu no final do século XIX, a partir de 1886, quando os aparelhos foram providos do “bico Auer”, que diminuía o perigo de explosões, oferecendo, pela primeira vez na história da humanidade, a possibilidade de virar para baixo a chama iluminante.